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Pesquisa da UFPel estima subnotificação de casos de covid-19 no Brasil
Saúde
Publicado em 02/06/2020

O estudo é financiado pelo Ministério da Saúde

 

 

Publicado em 01/06/2020 - 20:41 Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil - São Paulo/Site EBC

A imagem da capa do site Multisom é meramente ilustrativa e foi retirada de arquivos da internet/Google

 

Para cada caso confirmado de covid-19 segundo as estatísticas oficiais, existem sete casos reais na população dos principais centros urbanos brasileiros, de acordo com levantamento sobre a pandemia do novo coronavírus no Brasil realizado em 90 municípios. O dado é resultado da primeira fase do estudo Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional (Epicovid19-BR), coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com o Ministério da Saúde.

“De cada sete pessoas com o coronavírus, apenas uma sabe que está ou esteve infectada. Isso é preocupante, visto que as demais seis pessoas que não sabem da infecção podem, involuntariamente, transmitir o vírus para outras pessoas”, disse o coordenador geral do estudo e reitor da UFPel, Pedro Hallal.

Para os pesquisadores, a comparação dos números estimados pela pesquisa e os números oficiais aponta para uma grande subnotificação do número de infectados pela covid-19. 

A pesquisa testou se as pessoas tinham anticorpos para a doença, o que significa que já foram ou estão infectadas pelo novo coronavírus, podendo se tratar de casos assintomáticos. As estatísticas oficiais incluem pessoas que foram testadas, em geral, a partir da apresentação de sintomas.

No dia 13 de maio, véspera do início da pesquisa, essas 90 cidades somadas contabilizavam 104.782 casos confirmados e 7.640 mortes, conforme divulgado pelo estudo. No entanto, estimativa da pesquisa, realizada entre os dias 14 e 21 de maio, mostra que 760 mil pessoas estariam infectadas pelo novo coronavírus nessas cidades. “Os casos confirmados, que aparecem nas estatísticas oficiais, representam apenas a ponta visível de um iceberg cuja maior parte está submersa. Para conhecer a magnitude real do coronavírus, é obrigatória a realização de pesquisas populacionais”, disse Hallal.

Nesta primeira fase, foram testadas e entrevistadas 25 mil pessoas pelo país nas 133 cidades selecionadas, chamadas sentinelas. Elas são os maiores municípios das subdivisões demográficas intermediárias do país, de acordo com critérios do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, os dados analisados nesta etapa abrangem 90 cidades, incluindo 21 das 27 capitais, em que foi possível testar pelo menos 200 pessoas em cada uma delas – que é uma amostra considerada representativa.

Proporção de infectados

No conjunto dessas 90 cidades, a proporção de pessoas identificadas com anticorpos para covid-19 foi estimada em 1,4%, podendo variar de 1,3% a 1,6% pela margem de erro. Os dados já levam em consideração o tamanho da população de cada cidade. As 90 cidades correspondem a 25,6% da população nacional, totalizando 54,2 milhões de pessoas. Com isso, chegou-se à estimativa de 760 mil – com margem de erro, de 705 a 867 mil – de pessoas infectadas.

Os pesquisadores alertam que esses resultados não devem ser extrapolados para todo o país, nem usados para estimar o número absoluto de casos no Brasil, já que essas são cidades populosas, com circulação intensa de pessoas e que concentram serviços de saúde. A dinâmica da pandemia pode ser distinta se observadas cidades pequenas ou áreas rurais. Apesar dessa ressalva, o coordenador do estudo avalia que “o mais importante é saber que a contagem de casos de infecção por coronavírus no Brasil agora deve ser feita em milhões, e não mais em milhares”.

Regiões do país

Houve grande diferença na proporção de infectados por regiões do Brasil. As 15 cidades com maiores prevalências de infectados pelo novo coronavírus incluem 11 da região Norte, sendo Breves (PA), Tefé (AM), Castanhal (PA), Belém (PA), Manaus (AM), Macapá (AP), Marabá (PA), Rio Branco (AC), Parintins (AM), Boa Vista (RR), Oiapoque (AP); duas do Nordeste – Fortaleza (CE) e Recife (PE) – ; e duas do Sudeste – Rio de Janeiro e São Paulo.

“Esse resultado confirma o que já vinha sendo sugerido pelas estatísticas oficiais, de que a região Norte tem o cenário epidemiológico mais preocupante do Brasil”, disse a epidemiologista Mariângela Silveira, integrante da coordenação do estudo na UFPel. Na região Sul, somente a cidade de Florianópolis apresentou prevalência superior a 0,5% de pessoas infectadas entre sua população. Na região Centro Oeste, a pesquisa não encontrou nenhum caso positivo nas nove cidades estudadas, embora já há casos e mortes notificados. 

Os pesquisadores avaliam que as diferenças entre os municípios foram ainda mais marcantes. Na cidade de Breves (PA), foi observada a maior proporção da população que tem ou já teve coronavírus, estimada em 24,8%, ou seja, cerca de 25 mil dos 103 mil habitantes da cidade. O segundo resultado mais alto foi observado em Tefé (AM), onde estima-se que 19,6% da população tenha anticorpos para o coronavírus, o que significa que 12 mil dos 60 mil habitantes do município estão ou já estiveram infectados.

Entre as 21 capitais analisadas, Belém (PA) e Manaus (AM), ambas na região norte, foram as únicas que apresentaram resultado superior a 10% da população com anticorpos da doença. Das 10 capitais com percentuais mais altos da população com anticorpos, cinco são do Norte, três são do Nordeste e duas do Sudeste.

“Essas diferenças entre as cidades demonstram que existem várias epidemias num único país. Enquanto algumas cidades apresentam resultados altos, comparáveis aos de Nova Iorque (Estados Unidos) e da Espanha, outras apresentam resultados baixos, comparáveis a outros países da América Latina, por exemplo”, disse Pedro Hallal.

São Paulo e Rio de Janeiro

Para São Paulo, o município mais populoso do país com 12,2 milhões de habitantes, os resultados da primeira fase do estudo mostram uma proporção de 3,1% das pessoas com anticorpos para o novo coronavírus, ou seja, estima-se que 380 mil moradores da capital paulista já tenham se infectado ou ainda estejam infectados.

No Rio de Janeiro, com 6,7 milhões de habitantes e 2,2% da população com anticorpos, o número estimado de pessoas que têm ou já tiveram o novo coronavírus é de 147 mil.

No dia 27 de maio, data da divulgação da primeira fase da pesquisa, o Ministério da Saúde havia confirmado 411.821 pessoas infectadas com covid-19 no Brasil. Considerando apenas a estimativa de infectados – resultado da pesquisa – para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o número já ultrapassa em 28% o número oficial de infectados para todo o país.

Próximas fases da pesquisa

Com a finalização da coleta de dados da primeira fase no fim de maio, as novas datas para segunda etapa são 4, 5 e 6 de junho, e para a terceira, 18, 19 e 20 de junho. O novo calendário atende ao planejamento inicial da pesquisa, que prevê um intervalo de 14 dias entre cada levantamento.

A pesquisa inédita vai estimar o percentual de pessoas com anticorpos para a covid-19 e avaliar a velocidade de expansão da doença no país, por meio de uma amostragem de participantes nas 133 cidades sentinelas.

O estudo vai determinar ainda o percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas, avaliar os sintomas mais comuns, obter cálculos precisos da letalidade da doença, estimar recursos hospitalares necessários para o enfrentamento da pandemia, além de permitir o desenho de estratégias de abrandamento das medidas de distanciamento social com base em evidências científicas.

Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde informou, em nota, que a pesquisa Evolução da Prevalência de Infecção por covid-19 é financiada pela pasta por meio de um Termo de Execução Descentralizada de Recursos e que extrato foi publicado no Diário Oficial da União. "Os resultados da pesquisa serão utilizados para auxiliar na tomada de decisão, na definição de estratégias de abrandamento das medidas de isolamento social, na estimativa de recursos hospitalares necessários ao enfrentamento da pandemia, em articulação com os gestores estaduais e municipais de saúde", diz a nota.

Edição: Liliane Farias

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